Campo Grande , 22 de novembro de 2024

‹ Voltar

Tetraplégico após acidente, Fred reaprendeu a dirigir com veículo adaptado

Fred foi ouvido durante reportagem concedida ao programa Tá Na Rua, da TV Educativa. (Fotos: Reprodução)

Frederico Souto Machado Rios, Fred para os amigos, tem 42 anos e há 15 teve a vida virada do avesso depois de um acidente de trânsito que o limitou significativamente. A reportagem do Tá na Rua, da TV Educativa, pelo olhar da jornalista Nádia Nicolau mostra como foi para ele ter que “recalcular a rota e reaprender a viver” com a tetraplegia.

O acidente

Manhã de sábado, mais precisamente dia 23 de agosto de 2008. Fred saiu de casa para uma revisão em sua moto, uma CBR 600. Quando retornava para casa, foi atingido por um carro no cruzamento das ruas Alagoas e Piratininga, região do bairro Jardim dos Estados. Fred lembra que precisou mudar o caminho de casa por conta de uma interdição na pista quando foi surpreendido pelo motorista que invadiu a preferencial. “Era um senhorzinho, devia ter uns 73 anos, não deve ter me visto”, conta.

O caminho até a reabilitação foi longo e de lá pra cá, muita coisa mudou na vida dele. Na época, quase três meses de hospital, dos quais, 24 dias no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da Santa Casa. Em 2012, ele decidiu que queria voltar a dirigir. “Eu tinha uma meta, que era voltar a dirigir em 2013, mas falei, quer saber, eu vou é agora mesmo”, contou.

Fred Rios e seu sorriso contagiante durante entrevista.

Apesar dessa história comovente, que envolve dias de sofrimento da família e dos amigos, Fred conta tudo com um sorriso contagiante no rosto. Apesar de tudo o que passou, hoje tem sua autonomia resgatada e é ele quem cuida da família.

“Vão fazer quinze anos e não tem sido nada fácil. No começo fiquei quase três meses no hospital e depois você tem que reaprender várias coisas, inclusive dirigir. A gente é acostumado a fazer as coisas com agilidade, com certa facilidade e a primeira sensação é de perda. Você não fica feliz porque voltou a fazer determinadas coisas, você fica chateado porque tá tendo que fazer as coisas com muito mais dificuldade e aprender tudo de novo”, desabafou.

A volta ao volante

Voltar ao volante aconteceu antes do previsto.

“Sempre gostei de carros, desde pequeno. Quando criança, brincava com as tampas das panelas da minha mãe como se estivesse dirigindo. Para os meninos, talvez o contato com carros seja algo mais fundamental. Por incrível que pareça, a primeira sensação quando voltei a dirigir foi de derrota, pois o fazia com muita lentidão e dificuldade, até porque os braços acumularam também o trabalho das pernas. Depois da dolorosa fase de adaptação, passei a curtir cada pequeno passeio na cidade, mas o que me dá prazer mesmo é pegar a estrada sem pressa. Quanto mais distante o destino, melhor!”

As adaptações

Na reportagem do Tá na Rua que vai ao ar nesta quarta-feira (12) a partir das 21h30 pela TV Educativa, canal 4,1, o Fred conta que para independência ao volante, adaptações foram feitas em seu veículo.

“Eu sou um pouco mais comprometido do que boa parte dos cadeirantes porque a minha mão não é muito boa. Então, pra quem já está nessa vida, a gente não tá acostumado muito com improviso, tudo é planejado. Se eu estou saindo de casa para abastecer o carro, por exemplo, deixo o celular aqui em cima, se eu precisar me comunicar com alguém, deixo o cartão, deixo tudo à mão porque eu sei que não vou ter ajuda e não vou poder descer do carro”, contou.

A obrigatoriedade imposta pela legislação é para que a Pessoa com Deficiência, tenha um carro com direção hidráulica ou elétrica, câmbio automático ou automatizado. No caso do Fred, o carro já veio assim de fábrica. No entanto, outros itens precisaram ser adaptados, como é o caso do pomo de três pontos, para que possa encaixar a mão e girar o volante e a alavanca do lado esquerdo, que funciona como acelerador e freio.

Estatísticas

Em Mato Grosso do Sul, 1.290.674 condutores possuem algum tipo de deficiência, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MS). Essas pessoas têm o direito garantido por lei, por exemplo, a uma vaga especial e é importante ressaltar que os carros podem ser adaptados de acordo com cada tipo de necessidade.

A reportagem também ouviu o engenheiro mecânico da Comissão de Acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), André Canuto que explica: Cada condutor com limitação tem uma flexibilidade para ajustar no carro, o que deve ser planejado em projetos de engenharia mecânica.

Graciosamente, a jornalista Nádia Nicolau, encerra a reportagem com uma reflexão: “Sabe aquela frase, o céu é o limite? Embora seja um clichê, serve muito bem para ilustrar a máxima de que as limitações, especialmente as físicas, não são barreiras imutáveis. É possível sim, transpor obstáculos”.

Vivianne Nunes

VEJA TAMBEM: