Setor registra crescimento na venda de bebidas e ventiladores enquanto sofre com a imprevisibilidade das condições climáticas
As mudanças climáticas estão impactando o varejo brasileiro de diversas maneiras, alterando tanto a dinâmica de consumo quanto os custos operacionais. Em setembro, tradicionalmente um mês de inverno, temperaturas chegaram a 40ºC em várias capitais, levando a uma procura inusitada por itens como bebidas frescas e ventiladores ao lado de produtos típicos de inverno, como blusas e cobertores. Segundo a Scanntech, a cesta de bebidas cresceu 10% em agosto, enquanto o faturamento do varejo alimentar registrou alta de 7,7%.
O setor de mercearia também sentiu os efeitos das alterações climáticas, com um aumento de 8,1% nos preços de itens essenciais, como o arroz, que foi diretamente impactado pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Marcelo Antoniazzi, CEO da Gouvêa Consulting, afirma que as condições extremas, como enchentes e queimadas, têm mudado a previsibilidade do consumo e aumentado os custos no varejo, afetando matérias-primas e fretes.
A demanda por itens que ajudam a mitigar os efeitos do calor, como ventiladores e ar-condicionado, também disparou. Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar, destaca que períodos de calor intenso levam ao aumento da compra de bens duráveis e também modificam o consumo de alimentos e bebidas, além de incentivar a oferta de vestuário adaptado ao clima.
Estudos de comportamento de consumo apontam que produtos como protetores solares e roupas leves estão em alta. Um levantamento da Nuvemshop mostrou que, em novembro de 2023, a procura por esses itens cresceu 66% em relação ao ano anterior.
As condições climáticas têm influenciado diretamente no aumento de preços. O Procon Goiás identificou uma variação de 65% no preço de ventiladores e de 36,60% nos ar-condicionados, evidenciando como o varejo é sensível às mudanças sazonais.
Sustentabilidade no varejo – Além das questões de consumo imediato, as mudanças climáticas estão forçando o varejo a repensar suas práticas de produção. Produtos como o café, afetado pelas condições climáticas no Brasil e no Vietnã, estão no centro das preocupações. Empresas como a JDE Peet’s, responsável pelas marcas Pilão e L’or, já implementam práticas de agricultura regenerativa por meio de programas como o Common Grounds, que visa minimizar a pegada ecológica.
A sustentabilidade também está se tornando uma prioridade para os consumidores. Segundo um relatório da Bain Company, 80% dos brasileiros se preocupam com a sustentabilidade, mas apenas 20% a consideram um dos principais fatores na decisão de compra. Para empresas como a Electy, soluções de energia limpa e renovável podem ajudar a reduzir custos e apoiar práticas sustentáveis.
Ainda que o varejo esteja respondendo às mudanças climáticas, Paula Misan Klajnberg, co-fundadora da Electy, aponta que a massificação do uso de energia verde ainda precisa avançar, e que falta informação para incentivar os consumidores a adotarem práticas mais sustentáveis.
Fonte: Fecomércio
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