O que era para ser apenas uma viagem de férias, acabou virando um modo de vida. Essa é a história dos jornalistas João Paulo Mileski e Carina Furlanetto, dois gaúchos de Bento Gonçalves que em dois anos já rodaram, de carro, 72 mil quilômetros pela América do Sul e Brasil. Eles chegaram em Mato Grosso do Sul na última terça-feira (04) e toparam dar uma parada para contar essa história em uma reportagem especial sobre Crônicas na Bagagem.
“A ideia era ter um motorhome, mas como a gente viu que não ia rolar, resolvemos ir com o carro que a gente tinha mesmo. Melhor do que ficar esperando”, contou Carina. Questionados sobre o planejamento disso tudo, o esposo não resistiu a risada: “A gente planejou bem mais ou menos né”, contou, deixando escapar a gargalhada.
Eles se conheceram na cidade onde moravam, cada um na redação de um jornal, “pelas pautas da vida”. Carina conta que a rotina começou a bater, os trinta anos de idade chegaram e com eles, muitas perguntas e sonhos engavetados. “Era uma cidade do interior, as mesmas pautas sempre”, comentou.
Na bagagem, apenas as crônicas de momentos vividos. Sobre a vaidade feminina, Carina lembra que aos poucos foi desapegando de roupas e outros objetos que não fazem falta. Eles literalmente só levam consigo o que cabe na mala, ou no Sandero. Colecionam fotos, paisagens e memórias.
Queriam sair de férias. “Planejamos Uruguai, Argentina e Chile, lugares em que a gente gostaria de estar e quanto tempo estaríamos em cada um deles. Durou apenas uma semana porque ao longo do caminho, as pessoas iam nos convidando para ficar nas suas casas, para conhecer outros lugares”, contou.
E assim, a viagem foi se estendendo por toda a América do Sul. Naquela época, o carro ainda não tinha passado por todas as adequações. “A gente dormia nos bancos da frente mesmo. Não era confortável, mas era grátis”, brincou Carina.
O próximo destino era o Brasil. O casal resolveu que iria conhecer todos os estados brasileiros. Quando voltaram e deram início à viagem em território nacional, foram surpreendidos pela pandemia do Covid-19. Decidiram então voltar para casa e durante um ano aguardaram. Neste meio tempo nasceu o primeiro livro Crônicas na Bagagem. Depois de um ano mais ou menos, fizeram as adaptações no carro para dormir e voltaram para a estrada.
Carro adaptado: “A gente não paga a hospedagem e prepara a própria comida”
O que antes era um sonho, hoje é o trabalho de João Paulo e Carina. Eles produzem conteúdo para o instagram @cronicasnabagagem que já passou dos 140 mil seguidores. A ideia é escrever um novo livro quando voltarem para casa, o que deve acontecer até o fim deste ano.
A bordo do Renault Sandero 1.0, João Paulo e Carina continuam desbravando as cidades brasileiras e suas peculiaridades. Os bancos de trás foram retirados e um baú foi construído em formato de grandes gavetas. É nessas repartições que eles guardam as roupas, produtos de uso pessoal e alimentos. Sobre ele, um colchão ortopédico. Para as refeições, uma panela elétrica e um combinado que não sai ruim pra ninguém: Ela cozinha e ele lava.
E lá se vão quase 800 dias longe de casa e muitas histórias a serem contadas. Um diário é alimentado todos os dias no próprio celular registrando os vários momentos vivenciados. São dois anos de estrada e ainda nem há previsão de chegar em casa.
Agora eles começam o caminho de volta para o Rio Grande do Sul, mas antes, vão passar por alguns lugares que ainda não conheceram. O próximo destino? O rico Pantanal Sul-Mato-Grossense. Eles seguem viagem pela Estrada Parque na expectativa de topar com um dos animais mais cobiçados da região: “Será que a gente consegue avistar uma onça?”, perguntou João Paulo para a equipe de reportagem.
Lição na estrada
Quando o assunto é a lição que se tira dessa Jornada de autoconhecimento com as Crônicas na Bagagem, o jornalista diz que o mais legal de viajar é ver o mundo como ele é.
“O mundo nem sempre é como nos contam. A gente tinha uma noção de que o Nordeste fosse só praia, e não é! De que o sertão fosse só calor, e é bem mais que isso. A gente pôde ver o mundo com os próprios olhos”, relatou.
Sobre Campo Grande, João Paulo conta que chegou no melhor momento e teve a chance de acompanhar a florada dos ipês rosas, que decoram toda a cidade. Também estiveram no Bioparque Pantanal, no Parque das Nações Indígenas e comeram sobá na Feira Central.
Saudade de Casa
Carina, tem cara de turista, jeito de turista, olha de turista, mas é gaúcha nata e sente muita falta de casa. Ela lembra que cada dia é único e que as dificuldades existem. “Não dá para romantizar essa vida. Nós vamos voltar para casa ainda este ano, só não sabemos ao certo o dia”, contou.
Ela lamenta a distância da família, lembra que o casal tem um afilhado que já vai completar um ano de idade e que ainda não conheceram, lembram de outro sobrinho que vai ser papai, mas também só tiveram a chance de acompanhar tudo à distância, pelas redes sociais e whatsapp.
O Sandero prata carrega na lataria as marcas dos lugares por onde estiveram. Bandeiras de todos os Estados e do Distrito Federal e de todos os países visitados.
Vivianne Nunes